Os Crimes da Rua Morgue - Cap. 1: Os crimes da Rua Morgue Pág. 29 / 42

De facto, estando convencida que não havia possibilidades de saída por esse caminho, o mais natural era que o exame feito fosse meramente superficial. Contudo, para mim era perfeitamente claro que quando a persiana da janela junto da qual se encontrava a cama estivesse completamente aberta, ficaria a dois pés do cabo do pára-raios. Era também óbvio que alguém excepcionalmente ágil e corajoso poderia ter entrado deste modo pela janela. Esticando-se cerca de dois pés e meio (e supondo que a janela estava completamente aberta), o ladrão podia-se ter agarrado firmemente ao gradeamento. Largando em seguida o cabo e apoiando os pés na parede para tomar impulso, poderia ter empurrado a persiana, fechando-a, e supondo que a janela estava aberta na altura podia, inclusivamente, ter-se lançado para dentro do quarto.

»Lembra-te de que se falei numa agilidade excepcional como sendo indispensável para conseguir realizar uma façanha tão arriscada e difícil. O meu objectivo é começar por mostrar-te que a coisa pode ter sido feita, mas em segundo lugar, e principalmente, quero que compreendas o carácter extraordinário, quase sobrenatural, da agilidade necessária para a realizar.

»Não há dúvida de que poderás dizer-me, utilizando a linguagem da lei, que para «provar o meu caso» mais me valia calcular para menos a energia necessária ao caso que tentar apreciá-la com exactidão. Talvez seja esta a prática da lei, mas não é o costume da razão. O meu objectivo final é a verdade. O meu objectivo imediato é levar-te a justapor a agilidade excepcional de que te falei à tal estranhíssima voz aguda (ou áspera) sobre cuja origem não há dois testemunhos coincidentes é em que ninguém conseguiu compreender uma única sílaba.

Ao ouvir estas palavras atravessou-me o espírito uma ideia vaga e embrionária sobre o que Dupin tentava dizer-me.





Os capítulos deste livro