Os Crimes da Rua Morgue - Cap. 1: Os crimes da Rua Morgue Pág. 33 / 42

Os loucos são originários de uma nação qualquer e a sua linguagem, embora incoerente, é composta por sílabas. Além disso, o cabelo de um louco não se parece com o que eu tenho aqui na mão. Arranquei este punhado de cabelos aos dedos crispados e rígidos de Madame L’Espanaye. Diz-me o que pensas disto?

- Dupin! - exclamei eu, completamente transtornado. - Este cabelo é muito estranho. Isto não é cabelo humano!

- Não afirmei que era - disse ele -, mas antes de nos pronunciarmos acerca disso gostaria que te debruçasses sobre este esboço que tracei neste papel. É um desenho fac-símile daquilo que foi descrito por parte das testemunhas como «pisaduras negras e unhadas profundas» no pescoço de Mademoiselle L’Espanaye e por outras (Drs. Dumas e Etienne) como «uma série de manchas lívidas evidentemente causadas pela impressão de dedos».

»Como vês - continuou o meu amigo, desenrolando o papel sobre a mesa -, o desenho dá-nos a ideia de um punho sólido e firme. Nada indica que os dedos tenham deslizado. Os dedos mantiveram-se firmemente apertados (possivelmente até à morte da vítima) em volta do pescoço da vítima no mesmo ponto onde primeiro se incrustaram. Tenta agora colocar todos os teus dedos, ao mesmo tempo, nos seus respectivos lugares.

Tentei, mas inutilmente.

- É possível- disse Dupin - que a nossa experiência não esteja a ser correctamente feita. O papel está estendido sobre uma superfície plana; mas o pescoço humano é cilíndrico. Aqui tens um cilindro de madeira cuja circunferência é aproximadamente a de um pescoço humano. Enrola o papel em volta do cilindro e experimenta outra vez.

Assim fiz; mas a dificuldade ainda foi mais evidente.

- Isto - disse eu - não é a marca de uma mão humana.

- Agora - disse Dupin - lê essa passagem de Cuvier.





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