Entregou-me um jornal e li:
HISTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS
ENCONTRADO. - Foi encontrado na madrugada de... do corrente [a manhã do crime], no Bois de Boulogne, um orangotango de Bornéu muito grande e fulvo. O proprietário (que se sabe ser marinheiro num navio maltês) poderá recuperar o animal, depois de o identificar convenientemente e pagar as despesas feitas com a sua captura e guarda. Falar na Rua..., n.º..., Faubourg St. Germain, no 3.° andar.
- Como podes saber - perguntei a Dupin - que o homem é marinheiro e pertence a um navio maltês?
- Não o sei - disse Dupin. - Não tenho a certeza. Mas está aqui um pedaço de fita que, a julgar pela sua forma e aspecto gorduroso, serviu evidentemente para atar o cabelo num daqueles rabos-de-cavalo de que os marinheiros tanto gostam. Além disso, há pouca gente além dos marinheiros que saiba dar estes nós, e este é característico dos malteses. Apanhei a fita junto do cabo do pára-raios. Não podia pertencer a nenhuma das mortas. Ora bem, se no fim de contas me tiver enganado quando induzi, a partir desta fita, que o francês era marinheiro de um navio maltês, ninguém vem a sofrer com o engano; se eu estiver errado, ele suporá apenas que estou mal informado e não se dará ao trabalho de fazer indagações. Mas se tiver razão, deu-se um grande passo em frente. Ao corrente do crime, embora inocente, o francês hesitará naturalmente em responder ao anúncio a pedir o orangotango. Fará o seguinte raciocínio: «Estou inocente; sou pobre; o meu orangotango é muito valioso; para mim constitui a única fortuna.