Os Crimes da Rua Morgue - Cap. 1: Os crimes da Rua Morgue Pág. 35 / 42

Se o francês em questão está, como suponho, inocente de toda esta atrocidade, este anúncio que deixei ontem, ao voltarmos para casa, nos escritórios do Le Monde (um jornal consagrado aos negócios marítimos e muito procurado pelos marinheiros), trá-lo-á a nossa casa.

Entregou-me um jornal e li:

HISTÓRIAS EXTRAORDINÁRIAS

ENCONTRADO. - Foi encontrado na madrugada de... do corrente [a manhã do crime], no Bois de Boulogne, um orangotango de Bornéu muito grande e fulvo. O proprietário (que se sabe ser marinheiro num navio maltês) poderá recuperar o animal, depois de o identificar convenientemente e pagar as despesas feitas com a sua captura e guarda. Falar na Rua..., n.º..., Faubourg St. Germain, no 3.° andar.

- Como podes saber - perguntei a Dupin - que o homem é marinheiro e pertence a um navio maltês?

- Não o sei - disse Dupin. - Não tenho a certeza. Mas está aqui um pedaço de fita que, a julgar pela sua forma e aspecto gorduroso, serviu evidentemente para atar o cabelo num daqueles rabos-de-cavalo de que os marinheiros tanto gostam. Além disso, há pouca gente além dos marinheiros que saiba dar estes nós, e este é característico dos malteses. Apanhei a fita junto do cabo do pára-raios. Não podia pertencer a nenhuma das mortas. Ora bem, se no fim de contas me tiver enganado quando induzi, a partir desta fita, que o francês era marinheiro de um navio maltês, ninguém vem a sofrer com o engano; se eu estiver errado, ele suporá apenas que estou mal informado e não se dará ao trabalho de fazer indagações. Mas se tiver razão, deu-se um grande passo em frente. Ao corrente do crime, embora inocente, o francês hesitará naturalmente em responder ao anúncio a pedir o orangotango. Fará o seguinte raciocínio: «Estou inocente; sou pobre; o meu orangotango é muito valioso; para mim constitui a única fortuna.





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