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Capítulo 1: Os crimes da Rua Morgue

Página 36
Porque haveria de ficar sem ele por uns vagos receios de perigo? Aqui está ele, ao meu alcance. Foi encontrado no Bois de Boulogne, a grande distância da cena do crime. Como é que alguém poderá suspeitar sequer que foi um bruto animal o seu autor? A polícia não percebe nada, não conseguiu descobrir o mínimo indício. Mesmo que descobrisse o animal, seria impossível provar que eu estava ao corrente do crime ou inculpar-me por ele. Além disso, sabem quem eu sou. A pessoa que pôs o anúncio indica-me como proprietário do animal. Não sei até onde vão os seus conhecimentos. Se eu não for reclamar um animal tão valioso que se sabe ser meu, tornarei o animal pelo menos suspeito. Não me convém chamar as atenções nem sobre ele nem sobre mim. Vou responder ao anúncio, buscar o orangotango e guardá-lo bem guardado até este assunto estar resolvido.

Nesse momento ouvimos passos nas escadas.

- Prepara-te - disse Dupin - e apronta as tuas pistolas, mas não as apontes nem as mostres até te fazer sinal.

A porta da rua tinha ficado aberta e o visitante entrara sem tocar e subira já vários degraus da escada. Contudo parecia agora hesitar. Pouco depois ouvimo-lo descer. Dupin ia a correr para a porta quando percebemos que ele vinha de novo a subir. Os seus passos eram decididos. Bateu à porta.

- Entre - disse Dupin num tom de voz alegre e cordial.

Entrou um homem. Era um marinheiro, sem sombra de dúvidas. Um homem alto, forte e musculoso, com uma expressão atrevida e ao mesmo tempo insinuante. O rosto, muito queimado do sol, estava escondido em parte por suíças e mustachio. Trazia uma grande bengala de carvalho, mas não parecia ter qualquer outra arma. Fez-nos uma vénia desajeitada e deu-nos as boas-tardes num francês que, embora tivesse uns laivos de pronúncia de Neuchâtel, denunciava suficientemente a sua origem parisiense.

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Capa do livro Os Crimes da Rua Morgue
Páginas: 42
Página atual: 36

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Os crimes da Rua Morgue 1