Uma descida no Maelstrom - Cap. 1: Uma descida no «Maelström» Pág. 17 / 23

Corremos em volta durante talvez uma hora, mais parecendo voar do que flutuar, aproximando-nos gradualmente do centro do turbilhão, e depois cada vez mais junto da sua horrível face interna. Durante todo esse tempo permaneci agarrado à cavilha. O meu irmão estava à popa, segurando-se a uma grande barrica vazia que fora firmemente amarrada sob a cabina à ré e era a única coisa no convés que não fora arremessada pela borda fora quando a tempestade nos apanhara. Ao aproximarmo-nos da borda do fosso, largou-a e estendeu a mão para a argola, da qual, na agonia do terror, tentou retirar-me as mãos pela força, pois não era suficientemente larga para um e outro nos prendermos. Nunca senti desgosto mais profundo do que ao vê-lo tentar tal movimento - embora soubesse que ele não estava em si quando o fez, pois o simples terror o tornava louco furioso. No entanto, não me dei ao trabalho de competir com ele. Pensei que não faria qualquer diferença mantermo-nos agarrados ou não, de modo que o deixei segurar-se à cavilha e dirigi-me para a barrica à popa. Não tive grande dificuldade em fazê-lo, porque a sumaca navegava em círculos sem muito balanço e bastante direita; apenas caturrava, com a imensa ondulação e o borbulhar do turbilhão. Mal me tinha agarrado na nova posição, demos uma violenta guinada para estibordo e precipitámo-nos de proa no abismo. Murmurei uma rápida prece a Deus e pensei que tudo chegara ao fim.

»Ao sentir o voltear nauseante da descida, tinha-me instintivamente agarrado com mais firmeza à barrica e fechara os olhos. Durante alguns segundos não ousei abri-los, aguardando a morte imediata e admirando-me de não estar já a debater-me na agonia final com as águas. Mas o tempo foi-se escoando lentamente. Ainda estava vivo.





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