Uma descida no Maelstrom - Cap. 1: Uma descida no «Maelström» Pág. 19 / 23

fundo do enorme abismo; mesmo assim, não conseguia distinguir nada com nitidez, devido à espessura da névoa que envolvia tudo, e sobre a qual pairava um magnífico arco-íris, como aquela estreita e vacilante ponte que os muçulmanos dizem ser a única passagem entre o Tempo e a Eternidade. Esta névoa, ou espuma, era se dúvida causada pelo choque das enormes paredes do fosso, ao encontrarem-se no fundo - mas não me atrevo sequer a tentar descrever o estridor que subia de entre esta névoa para os céus.

»O nosso primeiro deslizar no abismo propriamente dito, a partir da cintura de espuma do seu topo, tinha-nos levado a grande distância pelo declive abaixo; mas a partir de então o ritmo da nossa descida não fora modo algum proporcional. Girámos sempre em redor, sem qualquer movimento uniforme, mas em atordoantes oscilações e impulsos que por vezes nos projectavam a umas centenas de jardas, enquanto outras vezes nos faziam quase completar o circuito do turbilhão. A nossa progressão para o fundo, a cada rotação, era lenta, mas bem perceptível.

»Olhando em redor para o vasto deserto de ébano no qual assim seguíamos, apercebi-me de que o nosso barco não era o único objecto presa do turbilhão. Quer acima, quer abaixo de nós, viam-se destroços de navio grandes massas de madeiramentos e troncos de árvores, bem como algumas coisas de menores dimensões, tais como peças de mobiliário, arcas quebradas, barris e aduelas. Descrevi já a curiosidade pouco natural que substituíra os meus terrores iniciais. Parecia aumentar à medida que me aproximava do meu terrível destino. Comecei então a observar, com desusado interesse, as inúmeras coisas que flutuavam juntamente connosco. Decerto delirava - pois consegui mesmo divertir-me a especular





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