William Wilson - Cap. 1: William Wilson Pág. 10 / 27

Uma e outra palavra eram autêntico veneno para os meus ouvidos; e quando, no dia da minha chegada, apareceu outro William Wilson na escola, senti-me irritado com ele por usar aquele nome, e duplamente contrariado pelo facto de ser utilizado por um estranho, que seria causa da sua dupla repetição, que estaria constantemente na minha presença e cujos assuntos, na rotina escolar quotidiana, inevitavelmente - devido a tão detestável coincidência - haviam de ser confundidos com os meus.

O sentimento de vexame assim originado foi-se aprofundando com cada novo facto passível de revelar alguma semelhança, física ou moral, entre o meu rival e eu. Nessa altura não tinha ainda descoberto a circunstância notável de termos a mesma idade; mas verificava que éramos da mesma estatura e apercebia-me de sermos mesmo singularmente parecidos na configuração física em geral e nos traços fisionómicos. Humilhavam-me ainda os rumores da existência de algum parentesco, que se haviam tornado habituais nas classes mais adiantadas. Numa palavra, nada me poderia perturbar tão intensamente (embora eu ocultasse escrupulosamente tal perturbação) do que qualquer alusão a uma semelhança intelectual, física ou de condição existente entre nós. Porém, em boa verdade, não tinha motivos para crer (excepto no referente ao parentesco e pelo que tocava ao próprio Wilson) que essa semelhança fosse alguma vez objecto de comentários, ou sequer notada, por parte dos nossos colegas. Que ele se dava conta dela em todos os seus aspectos, e tão detidamente como eu, era evidente; mas o facto de ele conseguir descobrir em tais circunstâncias um terreno tão fértil para incomodar-me só pode atribuir-se, como disse já, à sua perspicácia acima do comum.

A sua réplica consistia numa perfeita imitação da minha pessoa, quer nos gestos, quer nas palavras, e desempenhava esse papel de forma admirável.





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