William Wilson - Cap. 1: William Wilson Pág. 9 / 27

Para quem for filósofo, escusado se tornará acrescentar que Wilson e eu éramos absolutamente inseparáveis.

Foi sem dúvida o género anómalo de relações entre nós existentes que canalizou todos os meus ataques contra ele (e muitos eram, quer abertos, quer dissimulados) para o terreno da ironia e da piada pessoal (que magoavam ao mesmo tempo que assumiam o aspecto de mera brincadeira) e não para o de uma hostilidade mais séria e determinada. Porém, os meus esforços nesse sentido não eram de modo algum invariavelmente bem sucedidos, mesmo quando forjava os meus planos com a maior das astúcias; isto porque o carácter do meu homónimo tinha muito da discreta e calma autoridade que, do mesmo passo que goza com a mordacidade das suas próprias ironias, não revela qualquer calcanhar de Aquiles e se recusa terminantemente a dar-se ao ridículo. Na realidade, apenas conseguia encontrar-lhe um ponto vulnerável, e esse, uma vez que residia numa particularidade pessoal, originada talvez por qualquer enfermidade física, teria sido poupado por qualquer antagonista menos encarniçadamente determinado do que eu: o meu rival tinha um defeito nos órgãos vocais que o impedia de jamais erguer a voz acima de um sussurro muito baixo. Não me coibi de retirar desta imperfeição todas as baixas vantagens que estavam ao meu alcance.

Eram muitas as maneiras de Wilson me pagar na mesma moeda; e havia uma forma de maldade em especial que me perturbava incomensuravelmente. Como a sua sagacidade descobriu que uma coisa tão trivial me vexava, é coisa que nunca saberei; mas, tendo-a surpreendido, recorria frequentemente ao mesmo suplício. Eu sempre experimentara aversão pelo meu incaracterístico patronímico, bem como pelo vulgar, se não plebeu, nome de baptismo.





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