William Wilson - Cap. 1: William Wilson Pág. 17 / 27

Não tentava iludir-me sobre a identidade do estranho indivíduo que tão perseverantemente se imiscuía nos meus assuntos e me molestava com os seus importunos conselhos. Mas quem e o quê era este Wilson?... E de onde surgira?... E quais seriam os seus propósitos? A minha curiosidade não viria a ser satisfeita acerca de nenhum destes pontos. Apenas soube a seu respeito que um súbito acidente ocorrido na família o obrigara a deixar a escola do Dr. Bransby na tarde do próprio dia em que eu a abandonara. Todavia, pouco tempo decorrido, deixei de pensar no assunto, pois vi-me totalmente absorvido por uma projectada transferência para Oxford. E para ali me mudei em breve; a imoderada vaidade dos meus pais proporcionou-me enxoval e uma anuidade que me permitiriam dedicar-me sem peias ao luxo que me era já tão caro, rivalizar em prodigalidade de gastos com os mais altivos herdeiros dos mais ricos condados da Grã-Bretanha.

Assim encorajado na propensão para o vício, o meu temperamento natural irrompeu com redobrado ardor, e cheguei mesmo a desprezar as habituais fronteiras da decência na louca embriaguez dos meus deboches. Mas seria absurdo deter-me em pormenores sobre as minhas extravagâncias. Bastará dizer que ultrapassei em desregramento o próprio Herodes e que, dando um nome a uma infinidade de novas loucuras, acresci de um apêndice notável o longo catálogo de vícios então usuais na mais dissoluta universidade da Europa.

Não obstante, poderá parecer inacreditável que tivesse caído tão abaixo da minha condição de gentil-homem que chegasse a familiarizar-me com os mais desprezíveis artifícios do jogador profissional e que, tendo-me tornado adepto dessa vil ciência, a praticasse habitualmente como meio de aumentar os meus já imensos rendimentos à custa dos fracos de espírito que havia entre os meus colegas de estudo.





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