William Wilson - Cap. 1: William Wilson Pág. 18 / 27

Era, porém, o caso. E a própria enormidade deste atentado aos sentimentos de franqueza e de honra era, indubitavelmente, a principal, se não única, razão de ser da impunidade de que desfrutava. Efectivamente, qual dos meus mais depravados companheiros não teria mais facilmente lutado contra a evidência dos seus sentidos do que suspeitado capaz de tais processos o alegre, o franco, o generoso William Wilson - o mais nobre e mais liberal membro de Oxford -, aquele cujas loucuras (segundo os seus parasitas) não passavam de loucuras da juventude e do produto de uma imaginação desenfreada, cujos erros não passavam de caprichos inimitáveis, cujo mais negro vício mais não era que uma descuidada e fogosa excentricidade?

Tinha completado dois anos entregue a tais prazeres, quando surgiu na universidade um jovem nobre parvenu (novo rico), Glendinning - tão rico, ao que se dizia, como Herodes Ático, e cuja riqueza lhe viera igualmente sem esforço. Não tardei em descobrir-lhe um espírito fraco e, evidentemente, marquei-o como vítima apropriada para os meus talentos. Jogava frequentemente com ele e, com a habitual arte do jogador, esforçava-me por deixá-lo ganhar quantias consideráveis, para depois o apanhar mais eficazmente nos meus ardis. Ao fim de algum tempo, após ter amadurecido os meus planos, encontrei-me com ele (com a mais arreigada convicção de que este encontro seria final e decisivo) nos alojamentos de um colega (Mr. Preston), íntimo de qualquer de nós, mas que - faço-lhe essa justiça - não albergava a menor suspeita dos meus desígnios. Para dar mais colorido a todo o quadro, tinha arranjado as coisas de forma a reunir um grupo de oito ou dez pessoas e assegurei-me escrupulosamente de que o aparecimento das cartas parecesse perfeitamente acidental e fosse originado por proposta da minha própria presa em perspectiva.





Os capítulos deste livro