William Wilson - Cap. 1: William Wilson Pág. 4 / 27

O pastor dessa igreja era o director da nossa escola. Com que profundo espanto e perplexidade costumava contemplá-lo do nosso distante banco na tribuna, quando, em passo lento e solene, ele subia ao púlpito! Poderia este reverendo homem, de rosto tão sobriamente benigno, de vestes tão lustrosas e tão clerical mente ondulantes, com a cabeleira tão meticulosamente empoada, tão rígida e farta, ser o mesmo que, pouco antes, de rosto carrancudo e com a roupa manchada de rapé, administrava, de palmatória na mão, as drásticas leis da escola? Oh, gigantesco paradoxo, monstruoso de mais para lograr solução!

A um canto do maciço muro erguia-se, ameaçadora, uma porta mais maciça ainda, rebitada e atravessada por cavilhas de ferro e encimada por espigões de ferro dentados. Que sentimento de profundo terror ela inspirava! Jamais era aberta, a não ser para as três periódicas saídas e regressos que atrás referi; nesses tempos, em cada rangido dos seus poderosos gonzos, encontrávamos uma plenitude de mistérios - um mundo de motivos para solenes observações ou para meditações mais solenes ainda.

O extenso recinto era de forma irregular e possuía muitos recessos espaçosos, dos quais três ou quatro dos maiores constituíam o recreio, plano e coberto de saibro fino e consistente. Recordo-me bem de que não tinha árvores, nem bancos, nem nada de semelhante. Situava-se, evidentemente, nas traseiras da casa. Diante da fachada estendia-se um pequeno canteiro plantado de buxo e de outros arbustos; mas por este talhão só passávamos em muito raras ocasiões - tais como o primeiro dia de ida à escola ou o seu abandono definitivo, ou porventura quando, chamados por um amigo ou parente, regressávamos alegremente ao lar paterno, nas férias do Natal ou do Verão.





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