O PRIMEIRO DE MAIOA guerra terminara e fora ganha, e na grande cidade dos vencedores, toda garrida com flores brancas, vermelhas e cor-de-rosa atiradas das janelas, arcos triunfais cruzavam as ruas. Ao longo de toda a Primavera, soldados recém-chegados marchavam pela rua principal seguindo o rufar dos tambores e o som alegre e vibrante dos instrumentos de sopro, enquanto comerciantes e caixeiros deixavam os seus problemas e as suas contas para assomarem em magotes às janelas, voltando os rostos graves e pálidos para os batalhões que passavam.
Nunca na grande cidade houvera tamanho esplendor, pois que a vitória trouxera atrás de si muitas coisas, e de longe, do sul e do ocidente, tinham vindo comerciantes com as suas famílias para experimentarem o gosto dos grandes festejos e participarem nos muitos divertimentos preparados - e para comprarem para as suas mulheres peles contra o frio do Inverno que viria, e bolsas de malha dourada e sapatos de seda de muitas cores e de cetim prateado e rosa, e tecidos ricos.
A paz e a prosperidade esperadas eram celebradas tão ruidosa e alegremente pelos escribas e pelos poetas dos vencedores, que surgiam da província cada vez mais compradores para beberem o vinho da emoção, e cada vez mais depressa os vendedores esgotavam os adereços e os sapatos, reclamando em altos brados mais adereços e mais sapatos para poderem dar satisfação ao que lhes pediam. Alguns chegavam mesmo a agitar as mãos no ar, gritando impotentes:
«Ai de mim, que não tenho mais sapatos! e ai de mim que não tenho mais enfeites! Valha-me Deus, que não sei o que hei-de fazer!»
Mas ninguém escutava o seu clamor, pois que as gentes estavam demasiado ocupadas - dia após dia, soldados de infantaria passeavam desenvoltos pelas ruas principais e todos exultavam, porque os jovens recém-chegados eram puros e valentes, tinham dentes sãos e faces rosadas, e as raparigas da terra eram virgens e bonitas, tanto de cara como de figura.