A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 15 / 182

De repente Key estugou o passo. Rose, seguindo-lhe o olhar, descobriu uma multidão que se juntava a uns quinhentos metros na mesma rua. Key riu-se e começou a correr na direcção da multidão; também Rose logo se riu e as suas pernas curtas e arqueadas moveram-se rapidamente ao lado das passadas largas e desajeitadas do companheiro.

Ao chegarem junto da multidão imediatamente se tornaram uma parte indistinta dela. Era formada por civis andrajosos mais ou menos bêbedos e por soldados representando muitas divisões e muitos graus de sobriedade, todos reunidos à volta de um pequeno judeu de longas barbas e suíças pretas, que gesticulava agitando os braços e arengando excitada mas sucintamente. Key e Rose, tendo conseguido furar até ao grupo mais próximo, observavam-no desconfiados, à medida que as suas palavras lhes penetravam no entendimento.

- O que foi que vocês ganharam com a guerra? e gritava enfurecido. - Olhem à vossa volta, olhem! Estão ricos? Deram-vos muito dinheiro? Não; têm muita sorte por estar vivos e com ambas as pernas; têm muito sorte em ter voltado e as vossas mulheres não terem fugido com algum tipo com dinheiro suficiente para se livrar da guerra! E isto é quando têm sorte! Quem foi que ganhou alguma coisa com a guerra, excepto o J. P. Morgan e o John D. Rockerfeller?

Nesta altura o perorar do pequeno judeu foi interrompido pelo impacte hostil de um punho cerrado na ponta do seu queixo barbudo, que o fez cair para trás e estatelar-se no chão.

- Rai's partam o maldito bolchevista! - gritou o soldado-serralheiro que aplicara o soco. Houve um rumor de aprovação e a multidão tornou-se mais compacta.

O judeu pôs-se em pé e imediatamente voltou a ir ao chão perante uma meia dúzia de punhos cerrados.





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