Havia uma sala 'onde o ouro sólido e macio das paredes cedia à pressão da sua mão, e outra sala que era como a concepção platónica do derradeiro cárcere: tecto, chão, tudo era forrado com uma massa ininterrupta de diamantes, diamantes de todos os tamanhos e formas, até que, iluminada por altos candeeiros de luz violeta, ofuscava os olhos com uma brancura que só podia ser comparada consigo própria, para além de todo o desejo ou de todo o sonho humanos.
Os dois rapazes vaguearam pelo labirinto que eram estas salas.
Por vezes o chão, por baixo dos seus pés, flamejava em formas brilhantes da iluminação vinda de baixo, formas de cores contrastantes, primitivas, de uma delicadeza de pastel, de pura brancura, ou de um mosaico subtil e elaborado, decerto vindo de alguma mesquita do Mar Adriático. Por vezes, por baixo das camadas de espesso cristal, viam águas azuis ou verdes em turbilhão, habitadas por peixes refulgentes e por tufos de folhagem irisada. A seguir, pisavam peles de todas as texturas e cores ou passavam por corredores de marfim muito pálido, perfeito, como que extraído inteiro de dentes gigantescos de dinossauros extintos antes da era do homem...
Depois, uma transição vagamente recordada, e já estavam a jantar - onde cada prato era formado por duas camadas quase imperceptíveis de diamante maciço entre as quais fora curiosamente inserida uma filigrana talhada em esmeraldas, um pedacinho roubado ao ar verde. A música, plangente e discreta, flutuava através de corredores distantes; a cadeira onde estava sentado, forrada a penas e insidiosamente colada às suas costas, parecia engoli-lo e subjugá-lo enquanto bebia o seu primeiro cálice de Porto. Tentou indolentemente responder a uma pergunta que lhe fizeram, mas o luxo doce que lhe envolvia o corpo aumentava a ilusão de sono - jóias, tecidos, vinhos e metais confundiam-se perante os seus olhos numa névoa perfumada.