Havia a gente do costume, ou pelo menos o mesmo tipo de gente, a mesma profusão de champanhe, a mesma agitação polícroma e polifonia, mas eu sentia que o ar estava desagradável, impregnado de uma aspereza que não tinha sentido antes. Ou talvez me tivesse apenas habituado a aceitar West Egg como um mundo acabado, com os seus padrões próprios e as suas personalidades importantes, em nada inferior a nada, por não ter consciência alguma de ser como era, e que eu contemplava agora através dos olhos de Daisy. É sempre confrangedor ver com outros olhos as coisas em relação às quais já havíamos esgotado a nossa própria capacidade de ajustamento.
Chegaram ao anoitecer e, enquanto deambulávamos pelo jardim, entre as centenas de animados convivas, a voz de Daisy ia-nos seduzindo com os seus murmúrios guturais:
- Estas coisas excitam-me tanto! - sussurrava ela. - Se em qualquer momento da noite me quiser beijar, Nick, basta que mo diga e de bom grado farei tudo para o conseguir. Só tem de mencionar o meu nome. Ou de apresentar Um cartão verde. Estou a distribuir cartões ver...
- Olhe à sua volta! - sugeriu Gatsby.
- Já estou a olhar. Estou a sentir-me maravilhosamente...
- Deve estar a ver caras de muita gente de quem tem ouvido falar.
O olhar arrogante de Tom percorreu a multidão.
- É raro sairmos - disse. - Estava exactamente a pensar que não conheço aqui vivalma!
- É capaz de conhecer aquela senhora. - Gatsby apontou para uma vistosa e quase desumana orquídea feminina, pomposamente sentada debaixo de uma ameixoeira branca. Tom e Daisy fitaram-na, com essa peculiar sensação de irrealidade que normalmente acompanha a identificação de uma celebridade do cinema, até aqui espectral.
- É adorável - disse Daisy,
- O homem que está curvado sobre ela é o realizador.