O Grande Gatsby - Cap. 9: Capítulo IX Pág. 157 / 173

A princípio fiquei surpreendido e confuso; depois, com ele ali em casa, imóvel, sem respirar nem falar, horas e horas seguidas, foi crescendo em mim o sentido da responsabilidade, porque ninguém mais se interessava quero eu dizer, ninguém mais manifestava esse intenso interesse pessoal a que todos nós temos um vago direito, quando chega a nossa hora.

Telefonei a Daisy meia hora depois de termos dado com ele morto, telefonei-lhe instintivamente e sem qualquer hesitação. Mas ela e Tom tinham saído logo ao princípio da tarde, com bagagem a acompanhá-los.

- Não deixaram endereço?

- Não.

- Disseram quando voltavam?

- Não.

- Tem alguma ideia do sítio para onde foram? Onde eu possa encontrá-los?

- Não sei. Não posso dizer.

Queria arranjar alguém que lhe fizesse companhia.

Apetecia-me entrar no quarto onde ele jazia e tranquilizá-lo: «Vou buscar alguém que lhe faça companhia, Gatsby. Não se aflija. Confie em mim, que, eu hei-de arranjar-lhe alguém.»

O nome de Meyer Wolfshiem não constava na lista telefónica. O mordomo deu-me a direcção do escritório, na Broadway, e eu liguei para as Informações, mas quando consegui o número do telefone já passava bem das cinco e ninguém me atendeu.

- Não se importa de tentar outra vez?

- Já liguei três vezes.

- É que o assunto é urgente.

- Lamento muito, mas já não deve estar lá ninguém.

Voltei à sala de visitas e por um instante pareceu-me que todos aqueles funcionários, que de repente a encheram, eram visitas de acaso. Mas, apesar de terem puxado para trás o lençol e olhado, impressionados, para Gatsby, o protesto dele repetia-se-me na cabeça: «Olhe cá, meu velho, você ficou de me trazer alguém. Insista! Não consigo suportar isto sozinho.»

Alguém começou a fazer-me perguntas, mas escapei-me e, subindo ao andar de cima, pus-me a rebuscar à pressa nas gavetas da sua secretária - que não estavam fechadas à chave.





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