O Grande Gatsby - Cap. 9: Capítulo IX Pág. 166 / 173

Pouco antes das três chegou um sacerdote da igreja luterana, de Flushing, e, involuntariamente, comecei a olhar pelas janelas, à espera que viessem mais automóveis. O mesmo aconteceu com o pai de Gatsby. E como o tempo passava e os criados já estavam a reunir-se no hall, os olhos dele começaram a piscar e falou da chuva, apoquentado e com um ar duvidoso. O sacerdote olhou várias vezes para o relógio e então chamei-o à parte e pedi-lhe que esperasse só mais meia hora. Mas de nada serviu. Não veio mais ninguém.

Cerca das cinco horas, o nosso cortejo de três carros chegou ao cemitério e parou no portão, debaixo de forte chuvisco - primeiro, o carro funerário, horrivelmente negro e encharcado, a seguir o senhor Gatz, o sacerdote e eu, na limusina, e depois quatro ou cinco criados e o carteiro de West Egg, na station de Gatsby, todos molhados até aos ossos. Ao transpormos o portão do cemitério, ouvi um carro parar e alguém a chapinhar atrás de nós, na terra ensopada. Voltei-me para ver: era o homem dos olhos de coruja que uma noite, havia três meses, eu tinha encontrado na biblioteca, maravilhado com os livros de Gatsby.

Desde essa altura, nunca mais o tinha visto. Não sei como se chamava nem com soubera do funeral. A chuva escorria-lhe pelos grossos óculos abaixo, que ele tirou e limpou para conseguir ver a tenda' de lona que protegia da chuva a sepultura aberta de Gatsby.

Tentei, então, pensar um momento em Gatsby, mas já ele estava demasiado distante e tudo quanto me ocorreu, mas já sem ressentimento, foi que Daisy não tinha enviado nem uma mensagem, nem uma simples flor. Ouvi indistintamente alguém murmurar: «Bem-aventurados os mortos sobre os quais a chuva cai», e o homem dos olhos de coruja respondeu: «Ámen!» em tom de coragem.





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