O Grande Gatsby - Cap. 9: Capítulo IX Pág. 168 / 173

É este o meu Middle West - não os trigais, nem as pradarias, nem as perdidas colónias suecas, mas os emocionantes comboios de regresso da minha juventude, e os lampiões das ruas e os guizalhos dos trenós na congelada escuridão, e as sombras das coroas sagradas que, das janelas iluminadas, se projectavam na neve. Sou parte de tudo isso, um tanto misterioso ao descrever a impressão daqueles longos Invernos, um tanto complacente por ter crescido na casa dos Carraway, numa cidade onde, no decorrer das décadas, as casas continuam a ser conhecidas pelos nomes de família. Só agora vejo que, afinal, isto é uma história do Oeste - Tom e Gatsby, Daisy e Jordan e eu, éramos todos do Oeste, westerners, e é possível que tivéssemos qualquer deficiência em comum, que nos tornava subtilmente incapazes de nos adaptarmos à vida no Leste.

Mesmo quando o Leste mais me excitou, quando me senti mais agudamente consciente da sua Superioridade em relação às enfadonhas, espraiadas e tumefactas cidades de além-Ohio, com as suas intermináveis inquisições, que só os muito velhos e as crianças poupavam - mesmo então, o Leste foi sempre para mim uma coisa distorcida. West Egg, em especial, figura ainda nos meus sonhos mais fantásticos. Vejo-o como uma cena nocturna de El Greco: uma centena de casas, a um tempo convencionais e grotescas, agachadas debaixo de um céu escuro e ameaçador e de uma lua baça. Em primeiro plano, quatro homens, cerimoniosamente vestidos de casaca e chapéu alto, carregam numa padiola, pelo passeio fora, uma mulher bêbeda, de vestido de noite branco.

A mão dela, pendente, faísca de frias pedras preciosas.

Com um ar grave, os cavalheiros viram para entrar numa casa - que não é dela. Mas ninguém sabe o nome da mulher, nem quer saber.





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