.. - interrompeu-se, a ver se eu dizia alguma coisa. - Que mal faz ter-lhe dito a verdade? Aquele tipo não podia esperar outra coisa. Deitou-lhe areia aos olhos, a você, como à Daisy, mas era duro de roer. Atropelou a Myrtle como quem atropela um cão e nem sequer parou o carro!
Não tinha nada a dizer-lhe a não ser a pura verdade, mas essa não podia eu revelar-lhe.
- E se você julga que não passei o meu mau bocado... Oiça só isto: quando fui ao apartamento para o entregar ao senhorio e vi a maldita caixa dos biscoitos do cão pousada no aparador da cozinha, sentei-me e desatei a chorar como uma criança. Meu Deus, foi horrível!...
Não podia perdoar-lhe nem gostar dele, mas percebi que o que tinha feito era, aos seus olhos, inteiramente justificado. Tudo era impensado e confuso. Era uma gente insensata, o Tom e a Daisy - esmagavam coisas e pessoas e depois batiam em retirada, de volta ao seu dinheiro ou à sua enorme indiferença, ou o que quer que fosse que os mantinha unidos, e deixavam aos outros o cuidado de limpar a sujeira que eles tinham feito...
Acabei por lhe apertar a mão; seria idiota não o ter feito, pois de repente tive a noção de que estava a falar com uma criança. A seguir, ele entrou na joalharia para comprar um colar de pérolas, talvez - ou, muito simplesmente, um par de botões de punho -, para sempre livre dos meus provincianos escrúpulos.
A casa de Gatsby ainda estava vaga, quando eu parti, e a sua relva crescera tanto como a minha. Um dos motoristas de táxi da povoação nunca recebia o dinheiro da corrida de qualquer cliente que por ali deixasse, sem antes parar um minuto ao portão da entrada e apontar lá para dentro; talvez tenha sido ele quem, na noite do acidente, transportou Daisy e Gatsby para West Egg, e à volta disso tenha construído uma história muito sua.