O Grande Gatsby - Cap. 5: Capítulo V Pág. 81 / 173

Olhámos ambos para a relva - havia uma nítida linha de separação onde acabava o meu relvado, mal tratado, e começava o dele, mais viçoso e bem conservado. Suspeitei que se referia à minha relva.

- E ainda há outra coisa - disse ele, irresoluto e hesitante.

- Preferia adiar isto por alguns dias? - perguntei.

- Oh, não tem nada a ver com isso! Pelo menos... - Tenteou várias formas de começar. - É que... estive a pensar... oiça cá, meu velho, você não ganha muito, pois não?

- Lá isso, não.

A minha resposta pareceu tranquilizá-lo, pois prosseguiu com mais confiança.

- Foi o que eu pensei, desculpe a minha... mas, já vê, eu tenho um pequeno biscate, uma espécie de negócio marginal, você entende. E pensei que, se você não ganha grande coisa... Você vende títulos, não é assim, meu velho?

- Tento vender.

- Bom, talvez isto lhe interessasse. Não lhe ocupava muito tempo e podia lá ir buscar uns bons dinheiritos. Trata-se é de uma coisa um tanto ou quanto confidencial.

Compreendo agora que, noutras circunstâncias, esta conversa podia ter redundando numa viragem da minha vida. Mas, porque a proposta dele era, óbvia e desajeitadamente, para me pagar em dinheiro um serviço a prestar-lhe, eu não tinha outra escolha senão pôr, logo ali, ponto final no assunto:

- Não tenho mãos a medir - disse-lhe. - Fico-lhe muito grato, mas não posso comprometer-me com mais trabalho nenhum.

- Mas você não tinha que tratar com o Wolfshiem.

Pensou, evidentemente, que eu estava a recuar perante a «gonegção» mencionada ao almoço, mas garanti-lhe que estava errado. Esperou mais um momento, a ver se eu começava outra conversa, mas eu estava demasiado absorto para reagir e ele foi contrariado para casa.

O serão tinha-me deixado de ânimo leve e feliz; acho que, ao entrar em casa, mergulhei num sono profundo.





Os capítulos deste livro