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Capítulo 3: Capítulo 3

Página 50

Eu nada respondi. Ela esperava, segundo me pareceu, que eu dissesse qualquer coisa.

— É verdade que talvez não o compreenda ainda completamente, que não o conheça totalmente. Bem vê, sempre tive uma espécie de medo dele, tinha um ar sempre tão grave, dir-se-ia, mesmo, tão orgulhoso. De facto, eu sei, apenas tem o ar de ser assim e no seu coração existe mais ternura que no meu... Lembro-me de como me olhou no momento em que — recorda-se? — fui ao seu quarto com a trouxa na mão. Apesar de tudo, respeito-o muito e, deste modo, é como se não fôssemos iguais, não é verdade?

— Não, Nastenka, não—respondi—, isso apenas significa que o ama mais do que a tudo no mundo e que o ama muito mais do que a si mesma.

— Sim, admitamos que seja assim—respondeu a minha ingénua Nastenka.—Mas sabe o que me veio de repente à ideia? Agora não é dele que vou falar, mas em geral; desde há muito tempo que trago isso na cabeça. Escute então: porque não somos todos uns para os outros como irmãos e irmãs? Por que razão mesmo o melhor dos homens tem sempre qualquer coisa a esconder a outro e se cala diante dele? Porque não dizer francamente, à vontade, o que está no coração, quando se sabe que não se falará em pura perda? Pelo contrário, todos se dão ares de serem mais ferozes do que o são na realidade, como se temessem desvirtuar os seus sentimentos ao exprimirem-nos demasiado depressa...

— Sim, Nastenka! É verdade o que acaba de dizer! Mas isso sucede por bastantes razões—interrompi, recalcando os meus sentimentos de uma maneira a que nunca me vira até então obrigado.

— Não, não!—respondeu ela com profunda convicção.— Veja, por exemplo: o senhor não é como os outros. Sim, não sei como lhe exprimir o que sinto, mas parece-me que o senhor, por exemplo... pelo menos neste momento..., parece-me que está a sacrificar qualquer coisa por mim—acrescentou ela timidamente, lançando-me um rápido olhar.—Perdoe-me se lhe falo assim: sou uma rapariga simples, não conheço bem o mundo e, na verdade, existem momentos em que não sei falar— prosseguiu ela, com uma voz trémula, devido não sei a que sentimento oculto, e esforçando-se ao mesmo tempo por sorrir— mas queria apenas dizer-lhe que lhe estou muito grata, que gostaria de lho poder provar... Que Deus lhe dê felicidade em paga do que fez por mim! Olhe, o que me contou sobre o seu sonhador é absolutamente falso, quer dizer, não lhe diz, de modo algum, respeito a si. O senhor é um santo, é verdadeiramente um homem diferente daquele que me pintou. Se um dia amar alguém, que Deus lhe dê, com ela, a felicidade! Quanto a ela, nada lhe desejo, pois será feliz consigo. Sei-o bem, sou mulher, e tem de acreditar em mim quando lhe digo isto...

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Capa do livro Noites Brancas
Páginas: 67
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Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 14
Capítulo 3 44
Capítulo 4 52
Capítulo 5 65