Capítulo 19: Capítulo 19
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Apolo a mim se apresenta como o gênio transfigurado do principii individuationis, pelo qual se pode atingir apenas a libertação, na aparência; enquanto que, sob a mística exclamação de júbilo de Dionísio, se quebra o grilhão da individualidade, estando livre o caminho que nos leva às mães do ser, ao núcleo mais interno de todas as cousas. Este contraste imenso, que se abre entre a arte plástica como sendo a apolínica e a música como sendo a arte dionisíaca, foi compreendido por um único grande pensador de tal forma, que ele, apesar de não-iniciado no simbolismo divino da Hélade, adjudicou à música caráter e origem diferentes de todas as outras artes, por ela ser, não como todas aquelas, imagem do fenômeno, mas porque representa uma imagem do próprio desejo, figura o metafísico para todo o físico do mundo. (Schopenhauer, O mundo como Vontade e Representação — I) Este conhecimento mais importante de toda a estética, com o qual, tomado num sentido profundo, principia a estética, foi ornado, para confirmação de sua verdade eterna, com o sinete de Richard Wagner, quando ele determina no “Beethoven” que a música deve ser julgada por princípios estéticos totalmente diferentes daqueles que regem as artes plásticas, e que a mesma nem pode ser julgada pela categoria da beleza, apesar de uma estética errada, guiada por arte desencaminhada e degenerada, ter-se acostumado a exigir, em virtude de acostumada àquele conceito de beleza reinante no mundo plástico, da música um efeito parecido ao das obras plásticas, a saber a excitação do gosto nas formas belas. Depois de ter tomado conhecimento desta contradição ingente, senti grande necessidade de aproximar-me do ser da tragédia grega, e com isto da revelação mais profunda do gênio grego, pois só agora cria dominar a magia e de, sobrepujando a fraseologia de nossa estética usual, poder colocar diante de minha alma o problema primitivo da Tragédia.
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