Capítulo 22: Capítulo 22
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Aqui vem o “poeta” em seu auxílio, dando-lhe oportunidades suficientes para interjeições líricas, para repetições de palavras e sentenças, etc. Nestas partes pode, então, descansar o cantor no elemento puramente musical, sem tomar em consideração a palavra. Esta mudança de discurso, insinuante e afetuoso, mas somente semi-cantado, e de interjeição cantada inteiramente, que se situa na essência do stilo rappresentativo, este esforço, que rapidamente varia, de agir seja sobre o conceito e a representação, seja sobre o fundo musical do ouvinte, é algo tão fora do natural, e tão repugnante aos impulsos artísticos do apolínico e do dionisíaco, de maneira idêntica, que se é obrigado a supor uma origem do estilo recitativo, que está fora de todos os instintos artísticos. Pode-se definir, segundo esta exposição, o estilo recitativo, como a mistura do recital épico e do recital lírico, e nunca a permanente mistura, que não pode ser atingida em cousas de tal modo diferente, mas sim a aglutinação exterior, que se parece com o mosaico, como algo que, no domínio da natureza e da experiência carece de exemplo. Não era esta, porém, a opinião daqueles inventores do estilo recitativo: Eles, e com eles a sua época, pensavam que tivesse sido resolvido o segredo da música antiga por meio daquele stilo rappresentativo, e que somente por meio deste fosse possível explicar a influência imensa de um Orfeu, Anfião, e mesmo da tragédia grega. O novo estilo era tomado como o renascimento da música mais valorosa, da música antiga grega. Era possível, mesmo, entregar-se à ilusão, em virtude da conceção comum, muito popular do mundo homérico, como sendo o mundo primitivo, de ter novamente descido aos primórdios paradisíacos da humanidade, nos quais também a música devia ter tido aquela insuperável pureza, força e inocência, tão ternamente narradas pelos poetas, em suas peças pastoris.
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