Capítulo 7: Capítulo 7
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Prescindindo por um momento, de nossa própria “realidade”, considerando a nossa existência empírica, como a do mundo em geral, como uma representação do Uno-Primitivo produzida em cada momento, deve valer-nos o sonho como a aparição das aparições, como a aparência das aparências, e assim como uma satisfação ainda mais alta do desejo primitivo à aparição . É esta a razão de ter o núcleo da natureza aquele prazer indescritível no artista ingênuo e na obra de arte ingênua, que também nada mais é senão “aparência das aparências”. Rafael é, ele próprio, um daqueles “ingênuos” imortais, que nos representou numa pintura simbólica aquela despotenciação da aparência para a aparência, o processo primitivo do artista ingênuo e ao mesmo tempo da cultura apolínica. Em sua Transfiguração a parte inferior nos mostra, com o rapaz possesso, os seus portadores desesperados, os discípulos perplexos e amedrontados, o reflexo da eterna dor-primitiva , da única razão do mundo: a “aparência” e aqui o reflexo da eterna contradição, do pai das cousas. Deste brilho se eleva agora, como um perfume de ambrosia, um novo mundo de aparências, semelhante a uma visão, da qual não se apercebem aqueles presos na primeira aparência — um flutuar luminoso no mais puro deleite, na aparição brilhante de olhos mui abertos. Aqui temos, no mais elevado simbolismo artístico, aquele mundo de beleza apolínica e seu fundamento, a terrível sapiência de Sileno, diante de nossos olhares, e compreendemos por intuição sua necessidade recíproca. Apolo porém, mais uma vez de nós se aproxima como a divinização do principii individuationis, em que se processa unicamente o sempre atingido objeto do Uno-Primitivo, sua redenção pela aparência. Demonstra-nos ele, com sublimes gestos, como é necessário todo aquele mundo de dor, a fim de que por ele cada um seja impelido à produção da visão redentora e depois, em contemplação da mesma, possa sentar-se tranquilamente em seu barco, no meio do oceano.
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