Esta divinização do individualismo somente conhece, quando pensada como imperativo e dando preceitos, uma lei, o indivíduo, isto é, a manutenção dos limites do indivíduo, a medida em sentido helênico, Apolo como divindade ética, exige dos seus a medida e, para conservá-la, conhecimento próprio. E assim corre de par em par com a necessidade estética da beleza, a exigência do “conhece-te a ti mesmo” e do “nada em demasia”, enquanto que presunção e imoderação se consideravam como os verdadeiros demônios inimigos da esfera não apolínica, portanto como predicados do tempo ante-apolínico, da época dos titãs, e do mundo extra-apolínico, quer dizer do mundo bárbaro. Em virtude de seu amor titânico para com os homens foi Prometeu despedaçado pelos abutres; por causa de seu saber excessivo, que decifrava o enigma da esfinge, teve Édipo de cair num abismo desnorteante de crimes: assim interpretava o deus délfico o passado grego.
“Titânico” e “bárbaro” também se afigurava ao grego apolínico o efeito, que originava o Dionisíaco; sem poder ocultar-se contudo que ele mesmo era interiormente aparentado com aqueles Titãs e Heróis caídos. Sentia ainda mais: Toda a sua existência, com toda a sua beleza e moderação descansava sobre um fundamento oculto do sofrer e do reconhecer, fundamento que por sua vez lhe era descoberto pelo dionisíaco! E, eis aí! Apolo não conseguia viver sem Dionísio! O “titânico” e o “bárbaro” tinham-se tornado, por fim, necessidade tão imperativa quanto o apolínico! E afiguremo-nos como, neste mundo erguido sobre a aparência e a moderação, artificialmente contido, soava o som estático das festas dionisíacas em melodias mágicas que a cada instante seduziam mais; como se fazia ouvir nestas todo o excesso da natureza em prazer, sofrimento e reconhecimento, mesmo por gritos penetrantes.