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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 69
O artista titânico acreditava obstinadamente poder criar homens e, pelo menos, poder destruir deuses e isto por sua sabedoria superior que, porém, era forçado a expiar no sofrimento, eterno. O sublime “saber” do grande gênio que, mesmo com dor eterna, é pago mui exiguamente, o orgulho áspero do artista — é isto o que representa o conteúdo e a alma da poesia esquiléica, enquanto que Sófocles entoa, preludiando, no Édipo a canção vitoriosa do santo. Mas também com a interpretação que Ésquilo deu ao mito, não foi medida a pasmosa profundeza do terror; o desejo de ser do artista, a alegria do labor artístico que se opõe a toda desgraça é antes uma luminosa imagem de nuvem e céu; que se reflete em um lago de tristeza. A lenda de Prometeu é uma propriedade primitiva de toda a comunidade popular ariana e um documento para a disposição destes no trágico e ao meditativo; não é mesmo improvável que este mito tenha a mesma importância artística para o ser ariano, que tem o mito do pecado de Adão para o semita, e que entre ambos os mitos exista um grau de parentesco como entre irmão e irmã. A pressuposição daquele mito de Prometeu é o valor excessivo, que a humanidade primitiva atribui ao fogo como sendo o verdadeiro paladino de qualquer cultura que desponta. O fato, porém, é que o homem governa livremente este fogo, e que não o recebe somente como uma dádiva celeste, como raio inflamável ou incêndio solar. Isto parecia a tais contemplativos, homens-primitivos, um ultraje, um roubo à natureza divina. Assim, apresenta-nos desde já o primeiro problema filosófico uma oposição melindrosamente insolúvel entre homem e Deus e coloca-a como um bloco de pedra no limiar de toda a cultura. O melhor e o mais excelso, de que pode participar a humanidade ela o consegue por um ultraje, sendo obrigada a arcar com todas as suas consequências, isto é, com todo o dilúvio de sofrimentos e desgostos com que as divindades têm de afligir o gênero humano, que nobremente se eleva.

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pág. 69 (Capítulo 12)

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Capa do livro A Origem da Tragédia
Páginas: 164
Página atual: 69

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 6
Capítulo 3 18
Capítulo 4 19
Capítulo 5 25
Capítulo 6 30
Capítulo 7 34
Capítulo 8 39
Capítulo 9 46
Capítulo 10 51
Capítulo 11 57
Capítulo 12 65
Capítulo 13 72
Capítulo 14 76
Capítulo 15 83
Capítulo 16 90
Capítulo 17 94
Capítulo 18 100
Capítulo 19 106
Capítulo 20 113
Capítulo 21 120
Capítulo 22 125
Capítulo 23 135
Capítulo 24 139
Capítulo 25 147
Capítulo 26 153
Capítulo 27 158
Capítulo 28 163