Do sorriso de Dionísio originaram-se os deuses do Olimpo; das suas lágrimas, os homens. Naquela existência do deus despedaçado tem Dionísio a natureza dupla de um demônio cruel e selvagem e de um soberano meigo e afável. A esperança dos epoptes , porém, se dirigia a um renascimento de Dionísio, que devemos entender agora pressagiosamente como o término da individualidade; a este terceiro Dionísio que vinha, ressoava o tonitroante canto de júbilo dos epoptes. É somente nesta esperança que há um raio de alegria na face do universo lacerado e despedaçado em indivíduos, como o representa o mito pela Demetra mergulhada em luto eterno e que torna a se alegrar pela primeira vez quando se lhe diz poder mais uma vez dar à luz Dionísio. Nas considerações apresentadas temos todos os componentes de uma conceção pessimista e melancólica do mundo e juntamente com esta a doutrina dos mistérios da tragédia; o conhecimento fundamental da unidade de todo o existente, a consideração da individualidade como a razão primeira do mal, a arte como a esperança alegre de que o grilhão da individualidade possa ser quebrado, como o pressentimento de unidade restabelecida.
Indicou-se atrás que a epopeia homérica é a poesia da cultura olímpica, com que ela cantou seu próprio hino vitorioso sobre os horrores da luta com os titãs. Agora, sob a influência imensa da poesia trágica, novamente se modificam “ab ovo” os mitos homéricos e demonstram nesta metempsicose, ter sido vencida neste ínterim, a cultura olímpica por uma conceção ainda mais profunda do mundo. O obstinado Titã Prometeu anunciou a seu verdugo olímpico, que um dia a sua dominação será ameaçada pelo maior perigo, caso não se una com ele em momento oportuno.