Capítulo 13: Capítulo 13
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Em Ésquilo reconhecemos a aliança do Zeus assustado e receoso do seu fim. Assim se traz, tardiamente, do Tártaro à luz a época anterior aos Titãs. A filosofia da natureza nua e selvagem fita os mundos dos mitos homéricos, que passam dançando, com o semblante descoberto da Verdade. Eles empalidecem, tremem diante do olhar relampagueante desta deusa — até que o punho poderoso do artista dionisíaco os obriga a aceitar os serviços da nova divindade. A verdade dionisíaca toma a si a esfera total do mito, como simbolismo de seus conhecimentos e exterioriza estes, em parte, no culto notório da tragédia, em parte em celebrações secretas de festas dramáticas de mistério, sempre, porém, sob o velho envoltório mítico. Que força foi essa, que libertou Prometeu de seus abutres e que transformou o mito em veículo de sabedoria dionisíaca? É a força heráclica da música, a qual, chegada na tragédia à sua maior expressão, sabe interpretar o mito com nova significação, a mais profunda, que já anteriormente tivemos que caracterizar como a faculdade mais potente da música. Porque é o destino de qualquer mito paulatinamente esconder-se na estreiteza de uma pretendida verdade histórica e ser tratado, em alguma época posterior, como um fato isolado e único com pretensões históricas; e os gregos já estavam no caminho de converter inteiramente o seu sonho mítico juvenil com perspicácia e livre arbítrio, em um conto juvenil histórico-pragmático. Pois esta é a causa porque definham as religiões: quando são sistematizadas as suposições míticas de uma religião, sob os olhos severos e racionais de um dogmatismo ortodoxo, como uma soma intangível de acontecimentos históricos e quando se principia a defender, temeroso, a autenticidade dos mitos, mas a opor-se a toda a continuidade de vida e a todo viço natural dos mesmos, quando, finalmente, morre o sentimento pelo mito, aparecendo em seu lugar a exigência da religião por fundamentos históricos.
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Páginas: 164
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