Capítulo 15: Capítulo 15
Página 87
O fato de uma pessoa, apresentando-se no início da peça, contar como ela é, o que precede a ação, o que aconteceu até então, e mesmo aquilo que irá acontecer durante o desenrolar da peça, isto classificaria um dramaturgo moderno como uma renúncia propositada e imperdoável ao efeito do interesse excitado. Sabe-se, assim, tudo que irá acontecer; quem quererá esperar até que aconteça realmente? — em virtude de aqui, de maneira alguma, ter lugar a relação enervante de um sonho revelador da verdade para com a realidade que, posteriormente, se apresentará. De modo totalmente distinto refletia Eurípides. O efeito da tragédia nunca residia no interesse épico, na incerteza excitante do “o que está acontecendo e o que irá acontecer”, mas sim naquelas cenas retórico-líricas, nas quais se transformou a paixão e a dialética do herói principal em um rio possante e caudaloso. Tudo se preparava ao “pathos” e não à ação; e aquilo que não preparava ao “pathos”, era considerado rejeitável. O que, porém, dificulta mais o abandono deleitoso a tais cenas é um elemento que o ouvinte não possui; uma lacuna na tessitura da história dos antecedentes; enquanto o ouvinte é obrigado a refletir sobre o significado desta ou daquela figura, sobre a suposição deste ou daquele conflito de inclinações e desejos, nem sua concentração e meditação sobre o sofrer e agir das personagens principais, nem o co-sofrer e temer se tornam possíveis. A tragédia esquiléico-sofocléica usava meios artificiais os mais geniais para entregar, por assim dizer casualmente, nas primeiras cenas ao espectador os fios necessários para a compreensão da peça; um processo em que se reconhece aquela nobre qualidade artística, que cobre o formal necessário, fazendo-o aparecer como casual.
|
|
 |
Páginas: 164
|
|
|
|
|
|
Os capítulos deste livro:
|
|
|