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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 86
Pouquíssimas portas estavam abertas, e sitiadas por agrupamentos de gente do bairro, de trabalhadores ao sul da Ramblas. Exatamente quando chegamos lá, estouravam disparos de fuzil no lado de fora, algumas claraboias de vidro no telhado saltaram aos pedaços e aquela gente saiu às carreiras para as portas de trás. Algumas lojas continuaram abertas, assim mesmo, e conseguimos tomar uma xícara de café e comprar uma fatia de queijo feito com leite de cabra, que enfiei na cartucheira ao lado das bombas. Alguns dias depois esse queijo iria proporcionar-me grande satisfação.

Na esquina da rua onde vira os anarquistas dando os primeiros tiros na véspera, existia agora uma barricada. O homem atrás da mesma (eu estava no outro lado da rua) gritou-me um aviso para ter cuidado. Os Guardas Civis na torre da igreja estavam disparando indiscriminadamente contra todos que passassem. Fiz uma parada e depois atravessei o espaço aberto em carreira. Uma bala zuniu perto de mim, bem perto mesmo. Quando estava chegando ao Edifício da Direção do P.O.U.M., ainda do outro lado da rua, ouvi novos gritos de aviso, vindos de alguns Guardas de Assalto em pé na estrada - gritos esses que, naquele momento, não pude entender. Havia árvores e um quiosque para venda de jornais entre mim e o edifício (as ruas desse tipo, na Espanha, têm uma calçada larga a estender-se pelo seu meio) e não pude ver o que estavam apontando. Fui até ao Hotel Continental, verifiquei se tudo andava bem, lavei o rosto e voltei ao Edifício da Direção do P.O.U.M. (ficava a uns cem metros de distância) para pedir ordens. A essa altura o estrondo de disparos feitos por fuzis e metralhadoras, e vindo de diversas direções, quase equivalia ao de uma batalha. Eu acabara de encontrar Kopp e lhe perguntava o que deveríamos fazer, quando ouvimos uma série de estrondos assustadores lá em baixo. Era tanto barulho, que tive certeza de que havia alguém disparando contra nós e usando canhões. Na verdade, eram apenas granadas de mão, que faziam duas vezes mais barulho porque explodiam entre edifícios de pedra.

Kopp deu uma espiada pela janela, levantou o bastão atrás das costas, e declarou:

- Vamos investigar.

Partiu escada abaixo, em sua atitude despreocupada e costumeira, e eu atrás. Logo na entrada um grupo de Guardas de Assalto atirava bombas na calçada, como se estivessem brincando. As bombas explodiam a vinte metros de distância, com um estrondo assustador e ensurdecedor, misturado aos disparos de fuzis. No meio da rua, por trás do quiosque de jornais, via-se uma cabeça - a cabeça de um miliciano norte-americano que eu conhecia bem - a se exibir, e juro que não havia qualquer diferença entre ela e um coco no mercado.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 86

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173