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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 157

Pior de tudo, para quem é procurado pela polícia em Barcelona, é que a vida da cidade começa tarde demais. Quem dorme ao relento sempre acorda de madrugada e nenhum dos cafés de Barcelona abre as portas antes de oito e meia. Passaram-se horas até eu conseguir uma xícara de café e fazer a barba. Na barbearia pareceu-me bastante divertida a proclamação anarquista ainda afixada à parede, explicando que as gorjetas estavam proibidas. "A Revolução rompeu nossos grilhões", dizia aquele documento. Senti vontade de dizer aos barbeiros que os grilhões não tardariam a voltar, a menos que eles tomassem cuidado.

Regressei ao centro da cidade e vi que por cima dos edifícios do P.O.U.M. as bandeiras vermelhas foram rasgadas, as cores republicanas drapejavam em seu lugar, e grupos de Guardas Civis armados encontravam-se em suas portas. No centro de Ajuda Vermelha que ficava na esquina da Plaza de Cataluña a policia se divertira um bocado, quebrando-lhe quase todas as vidraças. As barracas de livros do P.O.U.M. foram esvaziadas e o quadro para cartazes em ponto mais além, na Ramblas, fora encoberto por um desenho anti-P.O.U.M., aquele da máscara e o rosto fascista por baixo. Na extremidade da Ramblas, perto do cais, deparei com um quadro bizarro - uma fileira de milicianos, ainda esfarrapados e enlameados, recém-chegados do front, escarrapachados nas cadeiras ali existentes para os engraxates. Eu sabia quem eles eram - na verdade, reconheci um deles, Eram milicianos do P.O.U.M., vindos do front na véspera; descobrindo que o partido fora extinto, foram obrigados a passar a noite na rua, pois tiveram suas casas vasculhadas. Qualquer miliciano do P.O.U.M. que regressasse a Barcelona naquela ocasião podia escolher entre rumar diretamente para um esconderijo ou então para a prisão - o que não constituía receção agradável, depois de três ou quatro meses de combate.

Nós nos encontrávamos em situação das mais esquisitas. A noite, éramos fugitivos procurados, mas durante o dia podia-se levar uma vida quase normal. Todas as casas que davam abrigo a adeptos do P.O.U.M. estavam - ou deviam estar - sob vigilância, sendo impossível ir para um hotel ou pensão, pois fora decretado que à chegada de qualquer estranho o hoteleiro devia informar imediatamente a polícia. Isso significava praticamente passar a noite ao relento. Durante o dia, por outro lado, numa cidade com as dimensões de Barcelona, estava-se razoavelmente a salvo. As ruas encontravam-se cheias de Guardas Civis, Guardas de Assalto, Carabineiros e policiais comuns, e mais uma quantidade inimaginável de espiões à paisana, mas ainda assim não podiam deter todos os que passavam, e quem tivesse aspeto normal podia escapar-lhes à observação.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 157

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173