Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 5: Capítulo 5

Página 39

Continuava a rotina diária - ou, mais precisamente, noturna - das tarefas comuns. Sentinela, patrulhas, cavar o chão; lama, chuva, ventos estridentes, de vez em quando alguma neve. Somente quando bem entrados em abril é que as noites se tornaram perceptivelmente mais quentes. Lá naquele planalto os dias de março pareciam-se mais ao março na Inglaterra, com céus de azul brilhante e ventos amolantes. A cevada atingia um palmo de altura, nas cerejeiras formavam-se botões rubros (a linha de frente passava por pomares abandonados e canteiros de hortaliças) e quem procurasse nas valas encontrava violetas e um tipo de jacinto agreste. Logo por trás da linha havia uma corrente maravilhosa, verde e cantarolante, a primeira água transparente que eu via desde minha chegada à frente. Certo dia cerrei os dentes e arrastei-me até ao rio para tomar meu primeiro banho em seis semanas. Foi o que se pode chamar "banho curto", pois a água estava pouco acima do ponto de congelamento.

Enquanto isso, nada acontecia, como sempre. Os ingleses adquiriram o hábito de dizer que aquilo não era uma guerra, mas uma pantomima. O fogo direto dos fascistas mal poderia nos atingir e o único perigo residia nas balas perdidas que, como as linhas se dobravam à frente em ambos os lados, vinham de diversas direções. Todas as baixas nessa ocasião eram devidas a projéteis perdidos. Arthur Clinton recebeu uma bala misteriosa que lhe estraçalhou o ombro esquerdo e inutilizou o braço, receio que para sempre. Havia algumas granadas explodindo, mas era coisa extraordinariamente ineficaz. O silvo e estrondo das granadas, na verdade, eram tomados como ligeira diversão. Os fascistas jamais atiraram suas granadas sobre nosso parapeito. Algumas centenas de metros atrás de nós havia uma casa de campo, chamada La Granja, com grandes construções rurais, utilizada como depósito, quartel-general e cozinha para aquele setor da linha de frente. Era. aquilo que os fascistas visavam com suas granadas de artilharia, mas eles se achavam a cinco ou seis quilômetros de distância e jamais miraram tão bem que conseguissem mais do que quebrar os vidros das janelas e arranhar as paredes. O único perigo era estar na estrada, subindo, quando a fuzilaria começasse, e as granadas caíssem no terreno em qualquer dos lados. Aprendia-se quase imediatamente a arte misteriosa de saber, pelo ruído feito, se a granada ia cair perto ou longe. As granadas disparadas pela artilharia fascista, nesse período, eram pavorosamente ruins, isto é, de péssima qualidade.. Embora os fascistas utilizassem armas de calibre 150 mm, seus petardos abriam crateras com apenas uns dois metros de diâmetro e mais ou menos um metro de profundidade; além disso, em cada quatro projéteis pelo menos um deixava de explodir ao tocar o chão.

<< Página Anterior

pág. 39 (Capítulo 5)

Página Seguinte >>

Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 39

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173