O Triunfo dos Porcos - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 78 / 94

Depois que o casco ficou bom, Sansão trabalhou mais violentamente do que nunca. Aliás, naquele ano todos os bichos trabalharam feito escravos. Além da faina normal na fazenda e da reconstrução do moinho de vento, ainda houve a escola dos porquinhos, iniciada em março. Às vezes tornava-se difícil agüentar as longas horas sem comer, mas Sansão nunca fraquejou. Em nada do que dizia ou fazia era possível perceber qualquer sinal de que sua energia já não era a mesma de antigamente. Apenas sua aparência estava um pouco modificada; o pêlo já não era tão brilhante e as ancas pareciam haver murchado. Sansão vai-se recuperar quando crescer o capim da primavera, diziam os outros - porém a primavera chegou e Sansão não mudou de aspecto. Por vezes, na rampa da pedreira, quando enrijecia a musculatura contra o peso de um enorme pedregulho, tinha-se a impressão de que apenas a vontade o mantinha de pé. Nesses momentos seus lábios formavam claramente as palavras "Trabalharei mais ainda"; não emitia qualquer som. Novamente Quitéria e Benjamim o aconselharam, porém ele não deu atenção. Seu décimo segundo aniversário se aproximava.

Não se importava com o que sucedesse, desde que pudesse acumular uma boa quantidade de pedras antes de aposentar-se.

Certa noite, no verão, correu a súbita notícia de que algo acontecera a Sansão, que havia saído sozinho para puxar uns montes de pedra até o moinho. E era verdade. Poucos minutos depois chegaram dois pombos afobados:

- Sansão está caído! - Não consegue levantar-se!

Metade dos animais da granja correu para a colina do moinho de vento. Lá estava Sansão, deitado entre os paus da carroça, com o pescoço esticado e sem poder sequer levantar a cabeça. Corria-lhe da boca um filete de sangue. Quitéria ajoelhou-se a seu lado.





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