levava, ofegante, a subir montanhas num abrir e fechar de olhos, a saltar valados, a atravessar bosques na peugada de algum roedor! Ulisses contemplou o cão prostrado, e teve vontade de chorar. Ao menos, para consolação derradeira, iria abraçá-lo e afagá-lo ternamente...
Acercou-se dele. Estendeu a mão para acariciá-lo! Ai de mim! Já não pôde tocar-lhe vivo! Ao senti-lo ao lado, o bom Árgus, tentando ainda mover a cauda e segurar-se nas pernas débeis, caiu para sempre, sem um suspiro. Estava morto. A alegria de tornar a ver o dono - matara-o! Sofrera, resistindo, a dor de vinte anos de ausência. Mas não resistira ao júbilo inesperado da presença de Ulisses. Reconhecera-o logo, logo tentara festejar o seu regresso - e eis que a vida lhe fugia. Eumeu, e mais era homem, e amigo de Ulisses, Telémaco, e mais era filho afectuoso e dedicado, - não tinham sabido adivinhar, perante o mendigo andrajoso, a verdade que, meio tonto e meio cego, o fiel Árgus imediatamente pressentira! Ulisses pranteou a sua morte como se fosse a do seu melhor camarada. E mais tempo a lamentaria, decerto, se não se avizinhasse o momento - o momento feliz! - do combate, da vitória e da justiça!