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Confiada, crente na sinceridade do pretenso estrangeiro, Penélope secou o pranto e chamou a velha Euricleia para acompanhar Ulisses a outro aposento, em que pudesse dormir descansado.
Era costume das criadas de então lavar os pés dos viajantes, cansados do caminho. Euricleia, mal instalou Ulisses no quarto que lhe destinara, preparou a água tépida para tal fim. Mas quando se apressava a cumprir a sua obrigação de serva dedicada, eis que descobre, num dos joelhos do forasteiro, cicatriz profunda que bem conhecia. Adolescente, o Herói tinha-a feito ao defrontar-se com um javali: - uma das presas da fera penetrara até ao osso!
- «És Ulisses, és Ulisses!» - exclamou.
E, comovida, abraçava-o, beijava-o, apertava-o contra o coração. Ulisses não pôde negar a verdade... A noite passou-a em longas confidências à sua velha e boa ama. Contou-lhe as suas aventuras e viagens.
Mas obrigou Euricleia a prometer que de tudo guardaria - e da sua presença no palácio - o mais completo e absoluto segredo...
No dia seguinte, recomeçando Antino a insultar Ulisses - Ulisses, sem outra resposta, retesou o arco e trespassou-o com a flecha afiada. E logo perdeu o aspecto de mendigo.