naufragará para sempre. Se, por favor especial do destino, escapares, só passados longos, longuíssimos anos avistarás a tua terra. Chegarás então sozinho, em navio estrangeiro. No teu palácio haverá grandes desordens, porque príncipes insolentes, nele instalados, lutarão para obter a mão de tua esposa, perseguindo-a a cada passo com seus rogos atrevidos e com presentes ostentosos.
Punirás a sua insolência, expulsá-los-ás à força de tua casa. E voltarás a ser feliz. Mas só então, só então e nunca antes, Ulisses...»
Quando Tirésias acabou de falar, respondi-lhe:
- «Acredito no que me dizes. Aceito a sentença do destino. Mas explica-me, peço-te, por que razão a sombra de minha mãe não me fala, não me vê, não se aproxima de mim? Dir-se-ia que me ignora. Como se poderá conseguir que ela me reconheça?»
- «É fácil responder-te - disse Tirésias. - Só as sombras que provam os alimentos próprios dos vivos recuperam o olhar e o sentido da sua vida terrena. De ti depende que tua mãe te reconheça. Deixa-a restaurar-se com a carne palpitante dos animais sacrificados.»
Assim me falou a sombra de Tirésias e logo desapareceu. Mas eu fiquei imóvel, à espera que minha mãe se alimentasse primeiro.
Logo que o fez, reconheceu-me e disse, gemendo, estas palavras que me reconfortaram: