Logo me preparei para obedecer ao desejo de minha mãe. Outras sombras, no entanto, rodeavam-me, sombras de heróis, de reis, de rainhas, de moços e de velhos.
Mas como nomeá-las todas? Como repetir o que lhes ouvi? Nem a longa noite bastaria para isso! Agora só quero que os deuses, e vós, meus amigos, pensem em preparar a embarcação ligeira que me levará à Pátria distante...
Ulisses acabara de falar, e ainda, emudecido e encantado, o auditório esperava que a sua narrativa continuasse. A rainha Arete, o rei, o herói Equéneo, que era o mais velho dos Feácios, louvaram a sua inteligência e eloquência singulares, resolveram dar-lhe presentes de valor; e, por fim, Alcino suplicou insistentemente que lhe contasse mais alguma coisa das muitas que vira no reino das sombras, e que assim levassem a noite inteira.
Ulisses não se fez rogado, e continuou a narração. Descreveu-lhe, por exemplo, o suplício do célebre Tântalo, vítima de tormentos que ninguém imaginaria: - ardendo em sede, Tântalo está no meio de um grande tanque, cuja água lhe sobe ao queixo, e de que ele não consegue haurir nem uma gota; de cada vez que tenta fazê-lo, a água esvai-se, e a seus pés estende-se unicamente a areia seca.