O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 118 / 279

Querem cobrir-me de toda a espécie de prendas, eu impeço-as, digo-lhes: Guardai o vosso dinheiro! Que querem que faça com ele? Não preciso de nada. É verdade, meu caro senhor, que sou eu? Um velho cadáver cuja alma está em todos os sítios onde estão as minhas filhas. Quando tiver visto a senhora de Nucingen, dir-me-á qual das duas prefere - disse o velhote após um momento de silêncio vendo que Eugène se preparava para ir passear às Tulherias enquanto esperava pela hora de se apresentar na casa da senhora de Beauséant,

Este passeio foi fatal ao estudante. Algumas mulheres olharam para ele. Era tão belo, tão jovem, e de uma elegância de tão bom gosto! Vendo-se objecto de uma atenção quase admirativa, não pensou mais nas irmãs nem na tia desfalcadas, nem nos seus virtuosos repúdios. Viu passar por cima da sua cabeça esse demónio que é tão fácil de confundir com um anjo, esse Satã de asas matizadas que semeia rubis, que lança as suas setas de ouro na testa, envolve as mulheres num manto púrpura, reveste com um brilho idiota os tronos, tão simples na origem: tinha ouvido o deus dessa vaidade crepitante cujo tilintar nos parece ser um símbolo de poder. A palavra de Vautrin, mesmo que cínica, tinha-se alojado no coração dele como na lembrança de uma virgem se grava o ignóbil perfil de uma velha vendedora de roupas galantes, que lhe disse: «Amor e ouro às mãos-cheias!»

Após ter passeado indolentemente, por volta das 17 horas Eugène apresentou-se em casa da senhora de Beauséant e lá recebeu um desses terríveis golpes contra os quais os jovens corações não têm arma. Tinha, até então, encontrado a viscondessa cheia dessa educação amena, dessa graça suave como o mel dada por uma educação aristocrática e que só é completa se vem do coração.





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