O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 121 / 279

lavrada, e os mil e um requintes de uma mesa sumptuosa, admirando pela primeira vez um serviço feito sem ruído, era difícil a um homem de imaginação ardente não preferir esta vida constantemente elegante à vida de privações que queria abraçar de manhã. O seu pensamento remeteu-o durante um momento para a pensão burguesa; ressentiu por ela um horror tão profundo que jurou deixá-la no mês de Janeiro, tanto para se instalar numa casa limpa como para fugir de Vautrin, de quem sentia a grande mão nos ombros. Se pensarmos nas mil formas que toma em Paris a corrupção, falante ou muda, uma pessoa de bom senso pergunta-se por que aberração o Estado põe escolas, aí reúne jovens, como as belas mulheres lá são respeitadas, como o ouro exibido pelos cambistas não voa magicamente para as malgas deles. Mas se pensarmos que há poucos exemplos de crimes, mesmo até de delitos cometidos pelos jovens, com que respeito não devem ser tomados esses pacientes Tântalos que combatem entre si e que são quase sempre vitoriosos! Se estivesse bem pintado na sua luta contra Paris, o pobre estudante forneceria um desses temas dramáticos da nossa civilização moderna. A senhora de Beauséant olhava em vão para Eugène para o convidar a falar, mas este nada quis dizer na presença do visconde.

- Irá levar-me esta noite aos Italianos? - perguntou a vis condessa ao marido.

- Não duvidará do prazer que teria em obedecer-lhe - respondeu com um galanteio jocoso que o estudante não percebeu -, mas tenho de me encontrar com uma pessoa nas Variétés.

«A amante», pensou ela.

- Não tem a companhia de Ajuda esta noite? - perguntou o visconde.

- Não - respondeu ela com desagrado.

- Pois bem! Se precisa absolutamente de um braço, tomai o do senhor de Rastignac.





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