- Minha querida prima - disse Eugène -, já me protegeu bastante; se quer acabar a sua obra, só lhe peço um último favor que lhe custará pouco e me fará muito bem. Estou apanhado.
- Já?
- Sim.
- E por essa mulher?
- As minhas pretensões seriam então ouvidas por outros lados? - disse, lançando um olhar penetrante à prima. - A senhora duquesa de Carigliano é íntima da duquesa de Berry - retomou após uma pausa -, se a vir, tenha a bondade de me apresentar e levar ao baile que ela irá dar na segunda-feira. Encontrarei lá a senhora de Nucingen e darei o meu primeiro toque.
- Com muito gosto - disse ela. - Se já se sente atraído por ela, os seus negócios do coração vão muito bem. Eis de Marsay no camarote da princesa Galathionne. A senhora de Nucingen está num suplício, consome-se. Não há melhor altura para abordar uma mulher, sobretudo a mulher de um banqueiro. Essas damas da Chaussée-d'Antin gostam todas da vingança.
- Que faria nesta situação?
- Sofreria em silêncio.
Nesse momento, o marquês de Ajuda apresentou-se no camarote da senhora de Beauséant.
- Coloquei os meus negócios 'em perigo para vir vê-la - disse. --E digo-lho para que não seja um sacrifício.
O brilho da cara da viscondessa ensinou Eugène a reconhecer as expressões de um verdadeiro amor e a não confundi-lo com as afectações da vaidade parisiense. Admirou a prima, ficou mudo e cedeu o lugar ao senhor de Ajuda, suspirando. «Que nobre, que sublime criatura é uma mulher que assim ama!», pensou. «E este homem seria capaz de a trair por uma boneca! Como se pode traí-la?» Sentiu no coração uma raiva de criança. Teria querido deitar-se aos pés da senhora de Beauséant, desejava o poder dos demónios para a levar no coração, como uma águia rouba na planície no seu bico uma jovem cabra branca que ainda mama.