O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 125 / 279

- É então bem falsa, e fechou-me a sua porta.

- Como?

- Senhora, terei a consciência de lhe dizer porquê; mas peço-lhe toda a indulgência confiando-lhe tal segredo. Sou vizinho de seu pai. Ignorava que a senhora de Restaud fosse filha dele. Cometi a imprudência de falar nele muito inocentemente e irritei a senhora sua irmã e o marido. Não poderá acreditar o quanto a duquesa de Langeais e minha prima acharam esta renegação filial de mau gosto. Contei-lhes a cena, riram como doidas. Foi então que fazendo um paralelo entre si e sua irmã, a senhora de Beauséant me falou de si em muitos bons termos e me disse o quanto era excelente para o meu vizinho, o senhor Goriot. Como, com efeito, não o amaria? Ele adora-vos de forma tão apaixonada que até já sinto ciúmes dele. Falámos de si esta manhã durante duas horas. Depois todo cheio daquilo que seu pai me contou, esta noite ao jantar com a minha prima, dizia-lhe que a senhora não podia ser tão bela quanto amável. Querendo talvez favorecer uma tão cálida admiração, a senhora de Beauséant trouxe-me aqui, dizendo-me com a sua graça habitual que aqui a poderia ver.

- Como, senhor - disse a mulher do banqueiro - já devo ser-lhe reconhecida? Mais um pouco e vamos ser velhos amigos.

- Apesar de a amizade dever ser junto de si um sentimento pouco vulgar - disse Rastignac - não quero nunca ser seu amigo.

Estas balelas estereotipadas para uso dos debutantes parecem sempre encantadoras às mulheres e só são pobres quando lidas a frio. O gesto, a pronúncia, o olhar de um jovem rapaz, dá-lhes valores incalculáveis. A senhora de Nucingen achou Rastignac encantador. Depois, como todas as mulheres não podendo nada responder a perguntas formuladas de forma tão intensa quanto as do estudante, respondeu a outra coisa.





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