- Meu vizinho - disse -, vi a senhora Delphine.
- Onde?
- Nos Italiens.
- Estava divertida? Mas entrai. - E o velhote, que se tinha levantado em camisa, abriu a porta e voltou rapidamente para o leito. - Falai-me então dela - pediu.
Eugène, que estava pela primeira vez nos aposentos do pai Goriot, não conteve um movimento de estupefacção ao ver a espelunca onde vivia o homem, após ter admirado a toilette da filha. A janela não tinha cortinado, o papel pintado colado sobre as paredes pendia em certos sítios devido à humidade e encarquilhava deixando aparecer o cimento amarelo do fumo. O bom homem jazia numa péssima cama, só tinha um cobertor muito fino e uma colcha almofadada feita com os bons bocados dos velhos vestidos da senhora Vauquer. O chão era húmido e cheio de pó. Em frente da janela via-se uma dessas velhas cómodas de madeira rosa inchada, que têm mãos de cobre torcido em varas decoradas com flores ou folhas e um velho móvel de tampo em madeira sobre o qual estava um pote com água dentro da bacia e todos os utensílios necessários para fazer a barba.