Num canto, os sapatos, à cabeça da cama, uma mesa-de-cabeceira sem porta nem mármore, no canto da lareira, onde não havia sinal de lume, encontrava-se a mesa quadrada, de pura nogueira, cujo pé tinha servido ao pai Goriot para desfazer o utensílio de cobre. Uma secretária feia na qual estava o chapéu do velho, um cadeirão escuro de palha e duas cadeiras completavam este miserável mobiliário. A barra da cama, presa no chão por um farrapo, sustentava uma péssima banda de tecidos aos quadrados vermelhos e brancos. O mais pobre dos comissionários estava sem dúvida melhor apetrechado no seu sótão, do que o pai Goriot na casa da senhora Vauquer. O aspecto deste quarto dava calafrios e apertava o coração, parecia o mais triste alojamento de uma prisão. Felizmente Goriot não viu a expressão que se desenhou na fisionomia de Eugène quando este pousou a vela na mesa de cabeceira. O velhote virou-se para ele ficando tapado até ao queixo.
- Pois bem! De quem gosta mais, da senhora de Restaud ou da senhora de Nucingen?
- Prefiro a senhora Delphine - respondeu o estudante -, porque esta o ama mais.
A estas palavras ditas calorosamente, o velhote tirou o braço de debaixo do cobertor e apertou a mão de Eugène.
, - Obrigada, obrigada - respondeu o velhote, emocionado. - Que vos disse ela então sobre mim?
O estudante repetiu as palavras da baronesa embelezando-as e o velhote ouviu como se se tratasse da palavra do Senhor.
- Minha querida filha! Sim, sim, ela ama-me. Mas não acreditai naquilo que ela vos diz sobre Anastasie. As duas irmãs são muito ciumentas entre si, está a ver? É mais uma prova da sua ternura. A senhora de Restaud também me ama. Eu sei disso. Um pai é para os filhos como Deus é para nós, vai até ao fundo do coração deles e julga as intenções.