O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 13 / 279

A Casa Vauquer é uma dessas monstruosidades curiosas.

Duas figuras formavam aí um contraste espantoso com a massa dos pensionistas e dos clientes habituais. Apesar da menina Victorine Taillefer ter uma palidez doentia igual à das raparigas atacadas pela clorose e se agarrar ao sofrimento geral que constituía o fundo deste quadro com uma tristeza habitual, com uma contenção tímida, com um ar pobre e frágil, no entanto o seu rosto não era velho, os movimentos e a voz eram ágeis. Esta jovem infeliz era parecida com um arbusto de folhas amareladas, recentemente plantado num terreno inóspito. A sua fisionomia de ruiva, os cabelos cor de fogo, a sua figura demasiado esguia exprimiam essa graça que os poetas modernos encontram nas estatuetas da Idade Média. Os olhos cinzentos e pretos revelavam uma doçura, uma resignação cristãs. As suas roupas simples, baratas, traíam formas jovens. Era bonita por justaposição. Se fosse feliz, seria encantadora; a felicidade é a poesia das mulheres, como o vestuário é o seu adorno. Se a alegria de um baile tivesse reflectido os seus tons rosados nesse rosto pálido; se as doçuras de uma vida elegante tivessem preenchido, dado cor a essas faces já ligeiramente encovadas; se o amor tivesse reanimado esses olhos tristes, Victorine teria podido rivalizar com as mais belas raparigas. Faltava-lhe aquilo que faz renascer uma mulher, os tecidos e as doces notas. A sua história daria um belíssimo assunto para um livro. O pai, pensando ter boas razões para a não reconhecer como sua filha, recusava-se a mantê-la consigo, dava-lhe apenas seiscentos francos por ano e deserdara-a, para poder entregar todos os bens ao filho. Parente afastada da mãe de Victorine, que em tempos viera morrer de desespero a sua casa, a senhora Couture tomava conta da órfã como se fosse sua filha.





Os capítulos deste livro