O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 131 / 279

São ambas identicamente amorosas. Oh! Se tivesse tido bons genros, teria sido feliz em demasia. Não existe talvez felicidade completa cá em baixo.

Se tivesse vivido na casa delas; mas só de ouvir as suas vozes, de as saber ali, de as ver ir, sair, como quando estavam comigo, faz-me vibrar o coração. Estavam bonitas?

- Sim - disse Eugène. - Mas, senhor Goriot, como é que, tendo filhas como as suas, que estão tão faustosamente instaladas, pode permanecer numa pocilga destas?

- Na verdade - disse ele, com um ar aparentemente despreocupado -, de que me serviria estar melhor? Não lhe consigo explicar estas coisas, não sei dizer duas palavras seguidas como deve ser. Está tudo aqui - acrescentou, batendo no coração. - A minha vida, são as minhas duas filhas. Se elas se divertem, vestidas com elegância, se andam sobre tapetes, que importa com que lençol estou vestido e como é o sitio onde me deito? Não tenho frio se elas sentem calor, não me maço se elas riem. As minhas únicas tristezas são as delas. Quando for pai, quando disser, ao ouvir palrar os seus filhos: saíram de mim! Quando sentir essas pequenas criaturas pendentes de cada gota do seu sangue, que foram a menina dos seus olhos - pois trata-se disso! - sentir-se-á colado à pele delas, pensará ser agitado pelo próprio andamento delas. A voz delas responde-me em todos os lados. Um olhar, quando é triste, gela-me o sangue. Um dia saberá que se é muito mais feliz com a felicidade delas do que com a nossa. Não lhe consigo explicar isso: são movimentos internos que espalham o bem-estar em todo o lado. Enfim, vivo em triplicado. Quer que lhe conte uma coisa engraçada? Pois bem! Quando fui pai, compreendi Deus. Está por inteiro em todo o lado, visto a criação ter saído dele. Sou assim com as minhas filhas.





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