Vautrin que voltava a ver o estudante pela primeira vez desde o seu encontro, parecia querer ler-lhe a alma. Lembrando-se do projecto deste homem, Eugène, que, antes de adormecer, tinha, durante a noite, medido o vasto campo que se abria para ele, pensou necessariamente no dote da menina Taillefer e não pôde deixar de olhar para Victorine como o mais virtuoso rapaz olha para uma rica herdeira. Por acaso, os olhos deles encontraram-se. A pobre rapariga reparou em Eugène, encantador nos seus fatos novos. O olhar que trocaram foi bastante significativo para que Rastignac não duvidasse que era para ela objecto desses confusos desejos que atingem todas as jovens e que se abatem sobre o primeiro ser sedutor. Uma voz gritava-lhe: 800 000 francos! Mas de repente lançou-se nas suas lembranças da véspera e pensou que a sua paixão por encomenda pela senhora de Nucingen era o antídoto dos seus maus pensamentos involuntários.
- Dava ontem nos ltaliens O Barbeiro de Sevilha de Rossini. Nunca tinha ouvido música tão deliciosa - disse o jovem. - Meu Deus! Como se é feliz quando se tem um camarote nos Italiens.
O pai Goriot apanhou esta palavra no ar como um cão apanha os movimentos do mestre.
- Estão regalados - disse a senhora Vauquer. -Vocês, homens, fazem o que vos apetece.
- Como regressou? - perguntou Vautrin.
- A pé - respondeu Eugène.
- Eu - retomou o tentador - não gostaria de ter prazeres pela metade; gostaria de ir no meu carro, ao meu camarote e voltar bem acomodado. Tudo ou nada! Eis a minha divisa.
- E que é boa - rematou a senhora Vauquer.
- Talvez vá ver a senhora de Nucingen - disse Eugène em voz baixa
a Goriot. - Irá sem dúvida recebê-lo, de braços abertos; quererá saber mil e um detalhes sobre mim.