Soube que faria todo o possível e impossível para ser recebida pela minha prima, a senhora vis condessa de Beauséant. Não vos esqueçais de lhe dizer que a amo de mais para não pensar em dar-lhe tal satisfação.
Rastignac partiu rapidamente para a Escola de Direito, queria ficar o menor tempo possível nessa casa odiosa. Vadiou durante quase todo o dia, entregue a uma dessas febres que conhecem os jovens atingidos por esperanças demasiado vivas. Os raciocínios de Vautrin faziam-no reflectir sobre a vida social, quando encontrou o amigo Bianchon no jardim do Luxemburgo.
- Onde foste buscar esse ar grave? - disse-lhe o estudante de Medicina, pegando-lhe no braço para passear frente, ao palácio.
- Estou atormentado com más ideais.
- De que tipo? Isso cura-se, as ideias.
- Como?
- Caindo nelas.
- Ris sem saber do que se trata. Leste Rousseau?
- Sim.
- Lembras-te dessa passagem onde ele pergunta ao leitor o que faria caso pudesse enriquecer matando na China por vontade própria um velho mandarim, sem se mexer de Paris.
- Sim.
- E então?
- Ora! Já vou no trigésimo terceiro mandarim.
- Não brinques. Vamos, se te provassem que tal é possível e que bastaria fazeres um sinal com a cabeça, fá-lo-ias?
-Já tem bastante idade, o mandarim? Mas, ora! Novo ou velho, paralítico ou de boa saúde, pois bem... Que diabo! Não.
- És um bom rapaz, Bianchon. Mas se amasses uma mulher ao ponto de vender a tua alma ao diabo por ela, e que ela precisasse de dinheiro, muito dinheiro para os seus trajes, para o carro, para todas as suas fantasias, enfim?
- Mas tiras-me a razão e queres que eu seja sensato.
- Pois é, Bianchon, estou louco, cura-me. Tenho duas irmãs que são anjos de beldade, de candura, e quero que sejam felizes.