O senhor de Nucingen junta-se a mim para lhe rogar que venha jantar connosco sem cerimónias. Se aceitar, dar-lhe-ia uma grande alegria ao liurd-lo da sua tarefa conjugal de me acompanhar. Não me responda, venha e receba os meus cumprimentos.
D.DEN.
- Mostrai-ma - disse o velhote a Eugène quando este acabou de ler a carta. - Irá, não é verdade? - Acrescentou após ter cheirado o papel. - Como cheira bem! Os dedos dela tocaram aqui!
«Uma mulher não se atira desta forma à cabeça de um homem», pensava o estudante. «Quer utilizar-me para ter de volta de Marsay. Só o despeito faz fazer tais coisas.»
- Então! - disse o pai Goriot. - Em que pensa?
Eugène não conhecia o delírio de vaidade de que algumas mulheres sofriam nesta altura, e não sabia que, para abrir uma porta no faubourg Saint-Cermain, a mulher de um banqueiro era capaz de todos os sacrifícios. Nesta época, a moda começava a pôr acima de todas as mulheres aquelas que eram admitidas na sociedade do faubourg Saint-Germain, chamadas senhoras do Petit-Château, entre as quais a senhora de Beauséant, a amiga a duquesa de Langeais e a duquesa de Maufrigneuse estavam na primeira fila. Só Rastignac ignorava a fúria que possuía as mulheres da Chausée-d'Antin para entrar no círculo superior onde brilhavam as constelações do seu sexo. Mas essa falta foi-lhe proveitosa, deu-lhe frieza, e o triste poder de impor condições em vez de as receber.
- Sim, irei - respondeu.
Assim, a curiosidade levava-o a casa da senhora de Nucingen, enquanto, se esta mulher o tivesse desprezado, talvez lá tivesse ido levado pela paixão. No entanto não esperou pelo dia seguinte e pela hora de sair sem alguma ansiedade impaciente. Para um jovem, existe na sua primeira intriga tanto encanto quanto talvez se possa encontrar no primeiro amor.