O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 138 / 279

A certeza de vingar desencadeia mil felicidades que os homens não revelam, e que são todo o encanto de algumas mulheres. O desejo tanto nasce da dificuldade como da facilidade dos triunfos. Todas as paixões dos homens são sem dúvida excitadas ou alimentadas por uma ou outra dessas duas causas, que dividem o império amoroso. Talvez esta divisão seja uma consequência da grande questão dos temperamentos, que domina, independentemente do que se possa dizer, a sociedade. Se os melancólicos precisam do tónico das galanterias, talvez as pessoas nervosas ou de sangue quente fujam se a resistência for demasiado longa. Por outras palavras, a elegia é tão essencialmente linfática quanto o ditirambo é colérico. Ao preparar-se, Eugène saboreou todas estas pequenas felicidades de que os jovens não ousam falar, com medo de serem gozados, mas que lhes vêm reforçar o orgulho.

Arranjava os cabelos pensando que o olhar de uma bela mulher iria demorar-se nos seus negros caracóis. Permitiu-se algumas macaquices infantis quanto as faria uma rapariga que se prepara para o baile. Olhou com complacência a sua cintura fina, compondo o fato. «É certo» pensou «que se podem encontrá-los mais mal arranjados!» Depois desceu no momento em que todos os convivas da pensão estavam à mesa e recebeu alegremente as exclamações que a sua vestimenta elegante provocou. Uma característica dos costumes particulares das pensões burguesas é o espanto que aí causa uma toilette cuidada. Ninguém veste um fato novo sem que todos digam uma palavrinha acerca disso.

- Ts, ts, ts, ts - fez Bianchon, fazendo estalar a língua contra o palato, como se fosse para excitar um cavalo.

- Aparência elegantíssima - disse a senhora Vauquer.

- O senhor vai à conquista! - observou a menina Michonneau.





Os capítulos deste livro