O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 147 / 279

Thérèse não saiu sem antes deitar um olhar malicioso a Eugène. O jantar estava servido. Rastignac deu o braço à senhora de Nucingen, que o levou para uma sala de jantar deliciosa, onde voltou a encontrar o luxo de mesa que tinha admirado na casa da prima.

- Nos dias de representações nos Italiens - disse ela - virá jantar a minha casa e irá acompanhar-me ao teatro.

- Seria capaz de me habituar a esta doce vida se ela tivesse de durar; mas sou um pobre estudante que ainda tem de fazer fortuna.

- Irá fazer - disse ela, rindo. - Como vê, tudo se resolve, não esperava estar tão feliz.

Está na natureza das mulheres provar o impossível pelo possível e destruir os factos com pressentimentos. Quando a senhora de Nucingen e Rastignac entraram no camarote dela nos Bouffons, ela teve um ar de contentamento que a tornava tão bela, que todos se autorizaram essas pequenas calúnias contra as quais as mulheres não têm defesas, e que muitas vezes fazem acreditar em distúrbios inventados por belo prazer. Quando se conhece Paris, não se acredita em nada do que se lá diz, e não se diz nada do que se lá faz. Eugène pegou na mão da baronesa e ambos falaram através de pressões mais ou menos intensas, comunicando entre si as sensações que a música proporcionava. Para eles, este serão foi inebriante. Saíram juntos e a senhora de Nucingen quis conduzir de volta Eugène até à Pont-neut, negando-lhe, durante o trajecto, um dos beijos que lhe tinha tão calorosamente prometido no Palais- Royal. Eugène recriminou-lhe esta inconsequência.

- Antes - respondeu ela - era reconhecimento por uma dedicação inesperada, agora seria uma promessa.

- E não me quer fazer nenhuma, ingrata - zangou-se. Fazendo um desses gestos de impaciência que encantam uma amante, ela deu-lhe a mão a beijar, na qual pegou com uma certa falta de jeito que a deixou encantada.





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